A esperança que eu preciso

Que mensagem eu quero hoje? O que viria de encontro aos meus anseios nessa noite? Assistir aos telejornais tem sido cada vez mais frustrante, internet, mídia impressa, rádio, tudo contribui para o desbotamento do cenário nacional. O vislumbre da prosperidade da nação nos anos que antecederam a famigerada retração econômica nos trouxe um jato de cor, uma falsa sensação de autossuficiência que alimentou a quase utopia de um sonho americano no Brasil. E então veio a crise. Centenas de empresas fecharam, milhões de desempregados, cerca de 12 milhões em 2016, segundo o G1, salários em queda. Temos lidado com isso como sempre fazemos, mas não porque somos brasileiros. As pessoas são assim. No mundo todo, as pessoas se reinventam diante da escassez de recursos, trabalham duro, abrem mão de tantas coisas para a sua subsistência e de seus familiares. Então, não é coisa de brasileiro, é coisa de ser humano. Aqui, onde os sabiás cantam nas palmeiras, não é diferente.

Porém, a crise no Brasil não é só econômica, é política. Sobrecarregamos nossos estômagos na tentativa frustrada de digerir escândalos após escândalos de corrupção, cada qual maior e mais devastador que seu predecessor. Vivemos nessa gastrite constante porque pouco se recebe de antiácido no noticiário capaz de combater essa perversidade corrosiva da agenda política brasileira. Somos confinados pelo frágil código de leis brasileiro num universo bidimensional, no qual somos desestimulados a olhar para cima, para uma terceira dimensão, onde flutua, praticamente intocável, a bolha selada do governo. Flutua, e sem esforço, porque a gravidade da população já não atrai mais, já não constitui um obstáculo para o deslocamento vertical de quem legisla sobre nós.

A crise não é apenas política, é também moral. O Brasil está submerso num pântano de imoralidade, mas que não se restringe à nave flutuante dos poderosos. Na verdade, ela começa exatamente abaixo dela, no povo. Alguém pode, então, interpelar-me sobre a moralidade, e não vou discutir fundamentos filosóficos aqui, não nesse texto. Mas, se tudo que temos visto no cenário político não for escrachadamente imoral, que outro termo posso usar para defini-lo? Obsceno? Insano? Por que estamos tão letárgicos, por que não reagimos frente a esse gigante massivo, esse buraco negro inescrupuloso que rouba a luz da nação? As centenas de manifestações que vimos nos últimos dois ou três anos, embora soassem como um gigante acordando, está mais para sinal de fumaça, como aqueles que os náufragos emitem para chamar a atenção de possíveis salvadores para sua situação calamitosa. O gigante não acordou, ainda dorme na embriaguez e na depravação de um povo que cresceu acostumado a vangloriar-se do jeitinho que não deveria ser brasileiro, que não deveria ser de ninguém. Não há efeito sem causa, nem para o bem nem para o mal.

Tempos atrás, conversava com um amigo sobre a relativização das coisas, sobre como as pessoas agora têm sua própria verdade, que não pode ser negada sob pena de linchamento. Nem tudo é relativo, como afirma Einstein, e nessa busca pela geração de um habitáculo com leis próprias e verdades restritas, acaba-se por suprimir o que é absoluto, e nisso se perdem as referências. Referência de moral, de verdade, de bondade, de altruísmo, que talvez falte para nós brasileiros, tanto nas nossas relações mais próximas quanto diante da urna no dia das eleições, ou frente aos contratos que assinamos e consumíveis que vendemos. Lembrei-me da cena final do filme Presságio [spoiler alert], em que, na iminência de uma onda solar devastadora, muitas pessoas se preocupavam em realizar saques por todos os cantos. Às vezes, essa é a leitura que faço da realidade que vejo por aí: o país em chamas e tanta gente preocupada com um benefício momentâneo. Na minha visão limitada, o que nos falta é uma Referência Absoluta, capaz de nos fazer perceber a posição em que estamos e para onde devemos ir.

2 respostas para “A esperança que eu preciso”

  1. Texto pessimista. O pessimismo somente pode levar ao que tu justamente colocas no texto se não colocar, em doses que podem ser pequenas, uma certa rebeldia que busque mostrar estar pronto para agir. Colocar o referencial para combater os vícios colocados no texto num aspecto puramente de fé, penso que acaba alimentando e deixando aliviados os que controlam este momento de degradação.

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